As pessoas, em geral, carregam dentro de si um desejo por liberdade. Especialmente para os mais jovens, isso pode significar sair da casa dos pais, poder ir e voltar para onde quiser sem ter que dar satisfação e, principalmente, sem precisar pedir permissão. Mesmo os mais velhos, muitas vezes, têm a mesma ideia de liberdade. O obstáculo passa a ser a esposa, o marido, os filhos, o trabalho, o chefe, mas o objetivo continua o mesmo: fazer o que quer, quando quer e como quer.
O problema é que essa concepção de liberdade passa longe da realidade. Na verdade, quem só faz o que quer, quando quer e como quer acaba virando escravo de si mesmo. Quem vive assim alimenta um egoísmo que, a cada dia, vai se distanciando mais das pessoas, do amor, da generosidade, da fraternidade, da solidariedade. Curvado sobre o próprio umbigo, a pessoa passa a se “armar” para os outros, vive só para si, num mundo particular. Ninguém pode contrariá-lo, como se o mundo e a vida tivessem que conspirar a seu favor, do seu jeito. Quando não acontece, vem a revolta, as intrigas, o orgulho, a prepotência, as acusações, o egoísmo, a busca por um prazer hedonista, a idolatria, a libertinagem, a superstição, o ciúme, o ódio, a ambição, as discórdias, os partidos.
Pensando assim, temos uma vida baseada na satisfação dos próprios interesses e paixões desenfreadas. É por isso que o apostolo São Paulo diz aos Gálatas: “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gal 5, 1). De que escravidão o apóstolo está falando? Da escravidão da “carne”. O cativeiro de si mesmo. “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais” (Gal. 5, 13).
Ser livre, na verdade, não é fazer só o que se quer. Ninguém consegue viver fazendo só o que está afim. Se assim fosse, ninguém certamente trabalharia às segundas-feiras… E talvez nas sextas também não. A liberdade exige responsabilidade. E ser livre é, sobretudo, permitir-se – mais que isso – obrigar-se a fazer também o que é necessário, embora não tenha vontade de fazê-lo. Em outras palavras, ser livre é não se deixar escravizar pelos instintos egoístas e, abrindo mão disso, ceder, lutando para viver o amor e a doação de si mesmo pelo outro. O que podemos chamar de vontade de Deus.
Ser livre, então, é se deixar guiar pelo Senhor, deixando que ele conduza a vida da gente do jeito dele (que é o amor) e não mais do meu jeito. Essa é a solução que o apóstolo Paulo apresenta: “deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estás sob a lei” (Gal . 5, 16-18).
Viver no Espírito liberta a pessoa de si. Ela deixa de dar vazão às suas manias e picuinhas para lutar contra si mesmo, buscando viver não o que se quer, mas aquilo que a faz uma pessoa melhor. Quando se deixa guiar pelo Senhor, a pessoa passa a provar dos frutos do Espírito.
Deixando de ter a vida centrada em seu próprio umbigo, ela começa a considerar os desejos e necessidades das outras pessoas, e aí surgem a caridade e a solidariedade. Conseguindo ver e compreender as carências do outro, surgem a paciência, a afabilidade, a bondade. Sendo mais paciente e mais compreensivo, vive-se na paz e na brandura. Estando em paz, surge a alegria. Buscando mais satisfazer o outro do que a si mesmo, vive-se o amor. Amando, vive-se a fidelidade. Deixando-se moldar por tudo isso, vem a temperança, que é a maturidade para passar pelas diversas situações da vida. Essa maturidade lhe permite utilizar bem o princípio do livre arbítrio, através do qual o Criador se obriga a não interferir na decisão da criatura, deixando-a livre até para optar pela escravidão.
Uma pessoa madura humana e espiritualmente é verdadeiramente livre, pois sabe quem é, conhece suas próprias limitações e reconhece o amor de Deus em sua vida. Por isso, é capaz de decidir livremente o rumo de sua vida, pois não estará mais preso em si mesmo. Então a sabedoria guiará seus passos, a luz divina iluminará seus caminhos e ela provará os frutos do Espírito.
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