segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Viver no Espírito


As pessoas, em geral, carregam dentro de si um desejo por liberdade. Especialmente para os mais jovens, isso pode significar sair da casa dos pais, poder ir e voltar para onde quiser sem ter que dar satisfação e, principalmente, sem precisar pedir permissão. Mesmo os mais velhos, muitas vezes, têm a mesma ideia de liberdade. O obstáculo passa a ser a esposa, o marido, os filhos, o trabalho, o chefe, mas o objetivo continua o mesmo: fazer o que quer, quando quer e como quer.

O problema é que essa concepção de liberdade passa longe da realidade. Na verdade, quem só faz o que quer, quando quer e como quer acaba virando escravo de si mesmo. Quem vive assim alimenta um egoísmo que, a cada dia, vai se distanciando mais das pessoas, do amor, da generosidade, da fraternidade, da solidariedade. Curvado sobre o próprio umbigo, a pessoa passa a se “armar” para os outros, vive só para si, num mundo particular. Ninguém pode contrariá-lo, como se o mundo e a vida tivessem que conspirar a seu favor, do seu jeito. Quando não acontece, vem a revolta, as intrigas, o orgulho, a prepotência, as acusações, o egoísmo, a busca por um prazer hedonista, a idolatria, a libertinagem, a superstição, o ciúme, o ódio, a ambição, as discórdias, os partidos.

Pensando assim, temos uma vida baseada na satisfação dos próprios interesses e paixões desenfreadas. É por isso que o apostolo São Paulo diz aos Gálatas: “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão” (Gal 5, 1). De que escravidão o apóstolo está falando? Da escravidão da “carne”. O cativeiro de si mesmo. “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais” (Gal. 5, 13).

Ser livre, na verdade, não é fazer só o que se quer. Ninguém consegue viver fazendo só o que está afim. Se assim fosse, ninguém certamente trabalharia às segundas-feiras… E talvez nas sextas também não. A liberdade exige responsabilidade. E ser livre é, sobretudo, permitir-se – mais que isso – obrigar-se a fazer também o que é necessário, embora não tenha vontade de fazê-lo. Em outras palavras, ser livre é não se deixar escravizar pelos instintos egoístas e, abrindo mão disso, ceder, lutando para viver o amor e a doação de si mesmo pelo outro. O que podemos chamar de vontade de Deus.

Ser livre, então, é se deixar guiar pelo Senhor, deixando que ele conduza a vida da gente do jeito dele (que é o amor) e não mais do meu jeito. Essa é a solução que o apóstolo Paulo apresenta: “deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estás sob a lei” (Gal . 5, 16-18).

Viver no Espírito liberta a pessoa de si. Ela deixa de dar vazão às suas manias e picuinhas para lutar contra si mesmo, buscando viver não o que se quer, mas aquilo que a faz uma pessoa melhor. Quando se deixa guiar pelo Senhor, a pessoa passa a provar dos frutos do Espírito.

Deixando de ter a vida centrada em seu próprio umbigo, ela começa a considerar os desejos e necessidades das outras pessoas, e aí surgem a caridade e a solidariedade. Conseguindo ver e compreender as carências do outro, surgem a paciência, a afabilidade, a bondade. Sendo mais paciente e mais compreensivo, vive-se na paz e na brandura. Estando em paz, surge a alegria. Buscando mais satisfazer o outro do que a si mesmo, vive-se o amor. Amando, vive-se a fidelidade. Deixando-se moldar por tudo isso, vem a temperança, que é a maturidade para passar pelas diversas situações da vida. Essa maturidade lhe permite utilizar bem o princípio do livre arbítrio, através do qual o Criador se obriga a não interferir na decisão da criatura, deixando-a livre até para optar pela escravidão.

Uma pessoa madura humana e espiritualmente é verdadeiramente livre, pois sabe quem é, conhece suas próprias limitações e reconhece o amor de Deus em sua vida. Por isso, é capaz de decidir livremente o rumo de sua vida, pois não estará mais preso em si mesmo. Então a sabedoria guiará seus passos, a luz divina iluminará seus caminhos e ela provará os frutos do Espírito.